Dicas para reduzir o impacte ambiental das atividades agroturísticas
O agroturismo encarna plenamente os conceitos de agricultura sustentável e turismo [3]. Seguem-se sugestões práticas para empresas de agroturismo para que possam mitigar os impactes ambientais das suas atividades e a transição para um modelo empresarial sustentável de bio e economia circular [1] [2] [7] [8] [9] [10] [13] [18]:
- agricultura sustentável, ou seja, o desenvolvimento de métodos agrícolas sustentáveis do ponto de vista ambiental que permitam produzir culturas ou gado sem prejudicar os sistemas humanos ou naturais. Inclui a prevenção dos efeitos adversos do solo e dos recursos hídricos por práticas agroecológicas como a gestão de sementes, a eficiência e gestão da água, culturas diversificadas/misturadas, abordagens integradas de gestão sustentável do solo e a gestão sustentável das florestas e a conservação e melhoria dos depósitos de carbono florestal;
- habitação e alojamento energeticamente eficientes, ou seja, a identificação e promoção de recursos energéticos renováveis domésticos (por exemplo, painéis solares, turbinas eólicas, biomassa/biogás provenientes de resíduos agroalimentares e florestais, bem como resíduos orgânicos do turismo) permitirá às empresas agroturísticas reduzir a pegada energética da produção alimentar e das atividades turísticas;
- produtos alimentares mais saudáveis e sustentáveis do ponto de vista ambiental correspondem a uma nova tendência de consumo que resulta num aumento da procura de produtos alimentares biológicos, ou seja, produtos agrícolas com baixo teor químico reduzido e produzidos por práticas amigas do ambiente. O agroturismo fornece uma plataforma para estes produtos locais, bem como outros artesanais (por exemplo, compotas, vinho), para servir as necessidades dos viajantes estrangeiros e nacionais, atuando como um canal secundário de distribuição de bens agrícolas. Apoia as empresas agroturísticas a emergir como marcas de nicho para competir com empresas de produção alimentar de grande escala;
- cadeias de abastecimento mais curtas, ou seja, a implementação da abordagem “zero quilómetros”, onde o fornecimento e consumo de produtos alimentares aos consumidores ocorre no mesmo local (ou nas proximidades) que a produção, facilitada pelo agroturismo. Os agroempreendedores podem ainda vender os seus produtos certificados por redes de distribuição nacionais ou internacionais, mas evitando preços ditados pelo mercado e flutuações de preços de alimentos sobre os quais não têm qualquer controlo e, em simultâneo, mitigando as emissões de GEE relacionadas com a distribuição de produtos a mercados maiores, tendo parte da sua produção a ser redirecionada para mercados locais;
- transporte limpo e sustentável, como o investimento em bicicletas, ciclovias e percursos pedestres dentro e fora do local do agroturismo, visto como um serviço adicional prestado pelo negócio do agroturismo para melhorar a experiência dos turistas que não prejudicam o ambiente ou reduzem o impacte para maior sustentabilidade dos recursos naturais. Passeios de bicicletas guiados e a pé são também uma oportunidade para rendimentos adicionais, enquanto contribuem para viagens turísticas com baixas emissões de carbono;
- energia mais limpa e inovação tecnológica de vanguarda. O acesso à tecnologia irá acelerar a mudança no negócio do agroturismo para métodos agrícolas mais sustentáveis, apoiando a introdução de tecnologias agrícolas inteligentes. Exemplos são as tecnologias de monitorização de dados de produção alimentar para ajudar a resistir a pragas e doenças, métodos inovadores para reduzir o consumo de água, investimento em processos de mecanização mais limpos para reduzir a pegada de carbono da agricultura e a combinação de melhor informação climática através da utilização sistemática de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) para ajudar a abordar a variabilidade climática de forma mais eficiente;
- preservação dos recursos naturais e da biodiversidade e restauração das paisagens. As empresas de agroturismo devem contribuir para a preservação do capital natural, para manter a rica biodiversidade e o património natural da sua região, sendo frequentemente as principais razões pelas quais os turistas visitam as zonas rurais. Devem utilizar eficazmente os recursos naturais e não pôr em perigo a vida selvagem, bem como fazer parte da oferta de serviços culturais da zona rural para fins recreativos e educacionais relacionados com a preservação do património natural;
- sensibilização para aumentar o interesse dos turistas pela agricultura, o que contribui indiretamente para uma maior preocupação com a preservação ambiental e o desenvolvimento sustentável das zonas rurais. Podendo ser feito apresentando aos turistas novas experiências como parte da prestação de serviços de agroturismo, para entrar diretamente em contacto com o meio rural como, por exemplo, a colheita, manipulação de gado, produção e preparação de produtos. Os turistas experimentarão o ambiente dos locais de agroturismo e sentir-se-ão integrados na natureza e espera-se também que mudem os comportamentos quando regressarem das suas férias;
- futuros empregos e formação de competências para a transição verde. À medida que os sistemas e empresas agrícolas se tornam mais complexos, os agroempreendedores precisam de ter melhores colaboradores e melhorar as suas próprias competências empresariais, digitais e ecológicas para manter e melhorar o seu negócio de agroturismo sustentável no que diz respeito a novas tendências, tecnologias, práticas e atividades agrícolas e turísticas relevantes. Devem também apoiar programas locais de formação de jovens e adultos, uma vez que será necessária uma mão-de-obra altamente qualificada e preocupada com o ambiente;
- capacitar a colaboração das comunidades locais e a aprendizagem mútua, envolvendo-se nos processos de tomada de decisões. As empresas de agroturismo podem assumir um papel ativo nas políticas e processos de tomada de decisão locais, envolvendo uma vasta gama de intervenientes relevantes da comunidade local para identificar as melhores práticas e replicá-las, discutir os desafios ambientais locais e estimular o desenvolvimento de soluções políticas e investimentos feitos à medida e integrados. Podendo ser alcançado por métodos formais (por exemplo, criação de uma associação com reuniões regulares e um processo de consulta formal pelo município) ou informais (como, por exemplo participação em conferências, seminários ou consultas públicas promovidas pelo município);
- abraçando um modelo de economia circular. As empresas de agroturismo deveriam ter um maior compromisso com a economia circular como alternativa a uma economia linear tradicional de produção, utilização e eliminação de resíduos ou produtos alimentares não vendidos alavancados pelos novos serviços que podem ser prestados no âmbito das suas atividades turísticas. Devem, portanto, otimizar o valor acrescentado das suas atividades turísticas, assegurando que os produtos e materiais sejam recuperados e regenerados num ciclo contínuo e sustentável entre a produção alimentar da exploração agrícola e as atividades turísticas que ela proporciona, o que pode ser realizado através da reutilização e reciclagem dos resíduos do turismo, através da compostagem, para fornecer nutrientes aos solos e alimentos para o gado ou gerando energia (por exemplo, biomassa/biogás) ou a utilização de produtos feitos na quinta em alojamentos turísticos (por exemplo, produtos de casa de banho, tais como sabões artesanais e recipientes de champô de madeira ou refeições orgânicas com produtos locais).
Resumo
Os agroempreendedores envolvidos no negócio do agroturismo podem seguir várias sugestões práticas, abordando questões ambientais e contribuindo para zonas rurais com baixas emissões de carbono. Uma vez que o agroturismo combina atividades agrícolas e turísticas tradicionais, devem adotar e implementar mudanças empresariais que potenciem esta interligação. Só tendo uma abordagem holística dos seus negócios e pensando na sustentabilidade em todas as atividades de agroturismo poderão verdadeiramente fazer a transição para um modelo empresarial de economia mais verde e circular. Do lado da agricultura, pode significar o envolvimento em métodos agrícolas sustentáveis, produzir mais produtos alimentares biológicos, introduzir novas tecnologias inovadoras de baixas emissões de carbono e de “green upskilling”. No que diz respeito às atividades turísticas, os agroempreendedores podem fazer mudanças tanto ao nível interno (por exemplo, eficiência energética, gestão de resíduos, reciclagem e reutilização de produtos, excursões com baixas emissões de carbono, serviços culturais para a preservação da paisagem) ou de comportamento comunitário (por exemplo, sensibilização, programas de formação educacional, envolvimento em processos de tomada de decisão). Questões para reflexão: Como irão as empresas agroturísticas equilibrar os custos e benefícios da implementação de práticas mais amigas do ambiente? Quais podem ser as atividades fundamentais para uma empresa de agroturismo para uma transição efetiva para um modelo de economia circular? De que forma devem as empresas de agroturismo acompanhar os novos desenvolvimentos e tendências recentes em matéria de novas técnicas, métodos e tecnologias de baixas emissões de carbono? |