Desafios das alterações climáticas para a agricultura e o desenvolvimento do agronegócio
As mudanças ambientais como, por exemplo, o derretimento dos glaciares, mais precipitação, eventos climáticos extremos e mudanças de estação, alteraram consideravelmente o nosso planeta, gerando eventos como as alterações climáticas e a perda de biodiversidade que, combinados com as consequências do crescimento económico contínuo (crescimento populacional, utilização indiscriminada dos recursos naturais e poluição) levaram a um entendimento comum de que o desenvolvimento da sociedade já não é sustentável, sendo necessárias mudanças para assegurar o futuro das próximas gerações [3] [12].
A agricultura é extremamente vulnerável às alterações climáticas [12] e embora as zonas rurais deem um contributo único e importante para a economia mundial, enfrentam desafios adicionais como o declínio e envelhecimento da população, menor acesso a oportunidades de emprego e infraestruturas deficientes de transporte e energia [10], o que significa que as zonas rurais estão normalmente menos equipadas do que as zonas urbanas para enfrentar os desafios das alterações climáticas. Os impactes das alterações climáticas na agricultura incluem [12] [15]:
- produtividade reduzida, cronologia de produção alterada, disponibilidade limitada de terras e aumento da pressão sobre recursos limitados (solo, água e ar): perturbações num ciclo agrícola tornam frequentes devido a inundações, secas ou frio extremo, dependendo da localização das áreas agrícolas. As culturas são reduzidas e a estabilidade da colheita é comprometida – uma vez que diferentes culturas têm respostas diferentes às alterações climáticas -, com declínios de produção a longo prazo, forçando os insumos químicos a compensar as perdas devidas a pragas, ervas daninhas e doenças. Além disso, a gestão intensiva da terra também contribui para a degradação do solo, da água e do ar. Espera-se, assim, que as atuais áreas agrícolas se tornem impróprias para culturas, o que, combinado com temperaturas e condições meteorológicas extremas, força os agroempreendedores a deslocarem-se e a procurarem novas terras aráveis;
- ameaça à subsistência dos agroempreendedores, à segurança alimentar e diminuição da nutrição: os impactes resultantes dos efeitos biológicos das alterações climáticas nas culturas incluem a instabilidade na disponibilidade de alimentos, nutrição e preços. Em primeiro lugar, os países podem identificar diversas formas de abordar estes problemas e, em segundo lugar, enfrentam o seu próprio processo de adaptação, que pode resultar em soluções desproporcionais em todo o mundo. A agricultura pode ser totalmente abandonada se os custos de produção, forem demasiado elevados como, por exemplo os investimentos adicionais em mão-de-obra e equipamento. Os impactes adicionais incluem, ao nível global, o aumento dos preços dos produtos agrícolas devido ao declínio das culturas e à limitada disponibilidade de terras e a má nutrição, ou seja, a diminuição do número de calorias disponíveis, particularmente nas crianças, tais como uma queda substancial no consumo de carne e cereais, ameaçando o acesso e a segurança alimentar global.
Estima-se que estes desafios persistam e espera-se que os agroempreendedores tomem mais iniciativas, identificando soluções sustentáveis a longo prazo no que diz respeito ao mercado, política, ciência e tecnologia e gestão de terras que preparem o futuro enquanto lidam com questões atuais [14].
Os agroempreendedores podem enfrentar os desafios das alterações climáticas através de práticas de agricultura inteligente (AI), uma abordagem integrada para transformar e reorientar o desenvolvimento agrícola – terras de cultivo, gado, florestas e pescas – sob as novas realidades interligadas da segurança alimentar e da aceleração das alterações climáticas [4] [20].
A definição mais utilizada é dada pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (ONUAA), que define uma AI como “agricultura que aumenta de forma sustentável a produtividade, aumenta a resiliência (adaptação), reduz/remova os GEE (mitigação) sempre que possível e aumenta a realização dos objetivos nacionais de segurança alimentar e desenvolvimento” [16]. Baseada nos conhecimentos, tecnologias e princípios da agricultura sustentável existentes, a AI tem um enfoque explícito na abordagem das alterações climáticas, considera as sinergias e trade-offs entre produtividade, adaptação e mitigação e visa captar novas oportunidades de financiamento para colmatar a lacuna de investimento dos agroempreendedores [4], os quais podem adaptar-se e mitigar os desafios das alterações climáticas por uma abordagem AI [4] [5] [11] [16] [20] ao:
- estabelecer sistemas de apoio para aumentar a produtividade agrícola sustentável (produzir mais e melhores alimentos para melhorar a segurança nutricional, apoiar o aumento do rendimento do agronegócio): os agroempreendedores devem certificar-se de que estão em conformidade com políticas internacionais, europeias, nacionais e regionais sólidas para melhorar a sua resposta às alterações climáticas, tendo em consideração um quadro político mais amplo; ao envolverem-se com os jovens e a comunidade local no desenvolvimento agrícola, esperam aumentar as competências e conhecimentos, apoiar a criação de empregos e assegurar práticas agrícolas sustentáveis enquanto reconstroem oportunidades económicas; devem também considerar a possibilidade de se candidatarem a apoio financeiros de instituições públicas ou privadas, para práticas agrícolas sustentáveis a preços acessíveis;
- adaptar e reforçar a resiliência dos sistemas agrícolas e de segurança alimentar às alterações climáticas a vários níveis, definindo estratégias concretas para responder às alterações climáticas, que podem variar desde práticas agrícolas a avanços tecnológicos ao mais alto nível; adotando a agroecologia, ou seja, a aplicação de princípios ecológicos à agricultura (por exemplo cobertura das culturas, minimização da lavoura, gestão de nutrientes), agro-florestação e diversificação do cultivo, princípios na exploração agrícola com elevado potencial para reforçar a resistência às alterações climáticas; e pela gestão (por exemplo, gestão da irrigação e escoamento de nutrientes, gestão da saúde do solo), monitorização e medição (por exemplo, deteção remota, satélites, melhor modelização para previsão, acesso mais fácil dos agroempreendedores à informação) do impacte ambiental na agricultura para a produção de culturas sustentáveis e melhoria das operações. Todas estas estratégias e ferramentas ajudá-los-ão a reduzir a vulnerabilidade à seca, pragas, doenças e outros riscos e choques relacionados com o clima e a melhorar a sua capacidade de adaptação e crescimento face às adversidades;
- reduzir as emissões de GEE provenientes da agricultura (incluindo culturas, gado e pescas), ou seja, procurar reduzir as emissões para cada caloria ou quilo de alimento produzido através da introdução de mecanismos de controlo de carbono na produção (por exemplo Calculador de carbono da Comissão Europeia para avaliar a pegada de carbono de uma exploração agrícola, recomendar opções de mitigação para a redução das emissões de GEE e fornecer certificação de exploração agrícola com baixas emissões de carbono), evitando a desflorestação da agricultura (por exemplo, gestão sustentável das florestas, conservação e melhoria dos stocks de carbono florestal) e gerindo os solos e as árvores para maximizar o seu potencial de absorção de carbono da atmosfera.
Resumo
Desde a segunda metade do século XX, as mudanças ambientais têm vindo a exigir práticas sustentáveis a longo prazo para satisfazer as necessidades do presente, garantindo em simultâneo o futuro. A agricultura é o setor mais vulnerável às alterações climáticas e as zonas rurais estão normalmente menos preparadas para lidar com os desafios implícitos. Os impactes negativos diretos das alterações climáticas podem ser sentidos ao nível das culturas – por exemplo, diminuição da produtividade, alteração da cronologia de produção, disponibilidade limitada de terras e aumento da pressão sobre recursos limitados (solo, água e ar). Os impactes resultantes destes efeitos incluem instabilidade na disponibilidade de alimentos, nutrição, preços e ameaças à subsistência dos agroempreendedores. É assim importante que os agroempreendedores assumam uma abordagem agrícola inteligente em termos de clima para se adaptarem aos desafios das alterações climáticas por práticas agrícolas concretas sustentáveis, conforme os três níveis seguintes: (i) produtividade (através do aumento sustentável da produtividade agrícola e dos rendimentos das culturas, gado e peixe sem ter um impacte negativo no ambiente); (ii) adaptação (através do aumento da capacidade de adaptação e prosperidade dos agroempreendedores face aos choques ambientais, protegendo simultaneamente o ecossistema) e; (iii) mitigação (através da redução e/ou anulação das emissões de GEE). Questões para reflexão: Quão conscientes estão os agroempreendedores dos impactes negativos e da extrema vulnerabilidade às alterações climáticas das zonas rurais? De que forma podem implementar e cumprir práticas mais sustentáveis, considerando uma abordagem de custo-benefício? De que forma estão dispostos a adotar uma abordagem de agricultura inteligente em termos climáticos para as suas empresas? |