Estudos de caso
Estudo de caso 1. da exploração agrícola à mesa: um ciclo eficiente de gestão de resíduos alimentares
Um agroempreendedor tem uma vasta quantidade de terras agrícolas onde produz vários frutos, tais como maçãs e peras. O negócio começou com a produção e distribuição destas frutas, uma vez que herdou as terras dos seus pais. Durante algum tempo, seguiu esta estratégia empresarial. Há alguns anos, decidiu que era o momento de expandir o negócio, seguindo uma nova tendência de estabelecer atividades turísticas em terrenos agrícolas, associadas ao negócio agrícola tradicional. Foram construídas pequenas casas de madeira para os visitantes, que esperavam experimentar atividades no campo, tais como a apanha de maçãs/peras.
Logo que o negócio do agroturismo começou, foi um enorme sucesso e permitiu-lhe ter uma fonte alternativa, e mais regular, de rendimento, particularmente porque nos últimos anos nem sempre foi possível prever o sucesso da produção de maçãs ou peras devido a condições meteorológicas extremas. Passado algum tempo, o apercebeu-se de que estava a investir muito dinheiro no fornecimento de refeições diárias aos turistas e que desperdiçava bastante, pelo que talvez se pudesse encontrar uma solução alternativa que fizesse uma melhor gestão do desperdício de alimentos das atividades turísticas na quinta. Queria que o seu agroturismo se tornasse cada vez mais conhecido pelas suas práticas sustentáveis.
Guiado pelos princípios de um modelo de economia circular, decidiu que a solução era iniciar uma pequena exploração hortícola, para a qual os turistas contribuiriam como parte da sua experiência no campo. Os alimentos produzidos seriam incluídos nas refeições dos turistas, combinados com carne e peixe comprados a outros agroempreendedores locais, ou seja, criando um canal de distribuição mais local. Os alimentos produzidos na pequena horticultura, juntamente com as maçãs e peras do agronegócio tradicional e a carne e peixe dos produtores locais alimentavam agora turistas satisfeitos, que apoiavam parte do seu processo de produção de refeições.
Além disso, as sobras alimentares passariam agora por um processo de compostagem, para fornecer nutrientes para o solo e produção de maçãs e peras novas e para gerar calor no Inverno – por biomassa/biogás – nos alojamentos turísticos de madeira. Para tal, investiu numa infraestrutura de compostagem/aquecimento e em formação/instruções claras aos seus empregados sobre como utilizar a nova infraestrutura e processar os resíduos alimentares na exploração agrícola. Esta estratégia de desperdício alimentar zero permitiu-lhe ser quase autossuficiente em termos de provisões alimentares para os seus visitantes, comprar mais produtos locais – diminuindo o seu impacte nas emissões de carbono da distribuição alimentar -, adotar uma fonte de energia mais ecológica para o alojamento turístico – diminuindo o seu impacte nas emissões de carbono da utilização de energia – e iniciar um processo de economia circular que gere totalmente o desperdício alimentar.
Estudo de caso 2. redescoberta da natureza como amante do vinho: promoção de atividades com baixas emissões de carbono
Um governo local decide promover práticas de desenvolvimento ambientalmente mais sustentáveis, a vários níveis políticos, na sua região. Esta região é principalmente rural, pelo que a maioria do financiamento público iria para promover atividades e estratégias individuais ou integradas de desenvolvimento rural sustentável. Para avaliar o estado de sustentabilidade ao nível ambiental e identificar questões-chave e ações relevantes, a câmara municipal decidiu realizar uma consulta pública com os principais stakeholders, incluindo agroempreendedores, associações ambientais, PME. Com base na consulta pública, tornou-se claro que a preservação, conservação e promoção da paisagem natural e da biodiversidade da região exigia uma ação urgente.
Durante anos, práticas agrícolas intensivas levaram à degradação da paisagem natural e dos recursos da região (por exemplo, degradação do solo, escassez de água, desflorestação). A estas consequências ambientais, juntou-se também a evidente diminuição do turismo na região, que sempre tinha sido bem conhecida pelas suas paisagens naturais. Portanto, a câmara municipal decidiu conceber uma estratégia para a preservação do património natural, fornecendo financiamento aos intervenientes locais para promover o capital natural da região em simultâneo que implementa práticas agrícolas mais sustentáveis e contribui para uma economia circular e com baixas emissões de carbono.
Um agroempreendedor local decidiu candidatar-se ao financiamento fornecido pelo governo local. Teve um negócio agrícola muito bem-sucedido relacionado com a produção de vinho e ao longo dos anos fez vários investimentos agrícolas inteligentes – por exemplo, processos de mecanização mais limpa, utilização de painéis solares – para tornar o seu negócio mais sustentável. Para expandir o seu negócio e, em simultâneo, contribuir para a preservação e promoção do património natural da região, decidiu que a melhor forma de aplicar o financiamento público era adotar um conjunto de atividades turísticas de baixas emissões de carbono na sua vinha para expandir o negócio, enquanto educaria os visitantes para a preservação ambiental da paisagem da região.
Guiado pelos princípios de uma economia de baixo carbono, começou a proporcionar passeios pela vinha e a alugar bicicletas e pequenos carros elétricos para os visitantes que queriam conhecer toda a propriedade ou mesmo a região, em vez de utilizarem os seus próprios carros. Para o aluguer de bicicletas e carros elétricos, comprometeu-se com outras empresas locais – por exemplo, restaurantes, museus, outras empresas de agroturismo -, a fornecer um pacote turístico regional integrado que aumentou a vontade dos visitantes de substituir os seus carros por alternativas com baixas emissões de carbono durante o resto da sua visita.
Como parte da sua experiência no campo, os turistas podiam desfrutar das belas paisagens da vinha, aprender mais sobre a produção de vinho, visitar as adegas e fazer uma prova de vinhos num único passeio a pé. Posteriormente, foram encorajados a alugar uma bicicleta ou um carro elétrico para continuarem a fazer turismo e puderam usufruir de descontos em restaurantes locais ou entradas gratuitas em museus locais. Com estas atividades turísticas adicionais, pôde aumentar os seus rendimentos e proporcionar alternativas de transporte com baixas emissões de carbono aos interessados em entrar em contacto com a produção de vinho e desfrutar da paisagem natural da região.
Estudo de caso 3. um dia na vida de um agricultor: autênticas experiências turísticas para zonas rurais sustentáveis
Um agroempreendedor de uma pequena empresa produz frutos vermelhos biológicos inteiramente para distribuição nacional e internacional. Durante vários anos, o negócio estava a correr bem. No entanto, nos últimos anos, enfrentou escassez de produção, particularmente devido à seca extrema na sua região causada pelas alterações climáticas. As suas culturas de frutos vermelhos diminuíram significativamente e, em apenas alguns anos, a colheita ficou quase toda comprometida. Nesses anos difíceis, foi confrontado com a decisão de introduzir produtos químicos na sua produção agrícola, o que significava que já não podia vender os frutos vermelhos com um rótulo biológico.
O agroempreendedor começou a procurar soluções. Queria salvar o negócio dos frutos vermelhos, mas estava quase a tornar-se impossível continuar com a quebra de rendimentos provenientes da sua distribuição. Procurou legislação internacional e europeia relevante que o pudesse ajudar a aferir soluções alternativas, bem como a adaptar e aumentar a sua resistência empresarial às alterações climáticas.
Deparou-se com o conceito de agricultura inteligente em termos climáticos e decidiu adotar e implementar mudanças e ações concretas, a três níveis: i) abrindo as suas terras agrícolas a uma experiência turística “um dia na vida de um agricultor”, que proporcionaria uma fonte alternativa e regular de rendimento (em que os visitantes acompanhariam o agroempreendedor num dia útil normal, monitorizando o crescimento das culturas, colhendo os frutos vermelhos, compreendendo o aspeto logístico por detrás do processo de distribuição, terminando com a gastronomia local e o turismo natural); ii) tornando a sua produção de frutos vermelhos completamente biológica (sem o uso de químicos) e apostando em mais mercados locais (sendo normalmente mais propensos à produção em pequena escala e significam menos custos de distribuição para o produtor agrícola); e iii) colaborando com uma universidade agrícola local para identificar uma forma de alta tecnologia de baixo custo para monitorizar as condições das culturas e prever problemas futuros (como por exemplo imagens de satélite).