Papel do agroturismo num processo empresarial de baixas emissões de carbono

A agricultura não se resume apenas à produção de alimentos. Para adaptar e mitigar os efeitos das alterações climáticas (ver Capítulo 1), os agroempreendedores começaram a implementar modelos de negócio alternativos com o objetivo de diversificar os seus fluxos de receitas [3]. O agroturismo é uma forma de turismo que se insere no quadro do turismo rural e se apresenta como um modelo particular de negócio agrícola [3]. De acordo com [3] [15], baseia-se no turismo que tem lugar em explorações agrícolas em atividade, com o visitante a viver uma vasta gama de experiências rurais reais e autênticas de lazer e educação geralmente ligadas à participação em atividades agroalimentares (por exemplo, colheita, alimentação), estando em contacto com os animais e a natureza, estilo de vida rural, cultura e turismo.

A importância deste tipo de turismo reside na possibilidade de complementar os rendimentos agroindustriais gerados pelos seus negócios tradicionais, ou seja, a produção de alimentos com os rendimentos do turismo (por exemplo, alojamento, restauração, transportes, atividades), quando confrontados com choques naturais e económicos relacionados com as alterações climáticas (ver Capítulo 2), bem como na sensibilização e na garantia da conservação do sistema ambiental e agrícola em que se realiza [3] [8].

De facto, o agroturismo está fortemente interligado com o turismo sustentável, uma vez que surge da tendência emergente na procura turística em que os beneficiários prestam mais atenção aos valores da preservação do património natural e cultural rural, dando assim um valioso contributo para o desenvolvimento sustentável e a conservação ecológica destas zonas [3] [8] e apoiando a transição dos agro-negócios para modelos empresariais mais sustentáveis. Em última análise, esta nova tendência eleva os agroempreendedores, que também estão envolvidos em atividades turísticas, a consciência para utilizar eficientemente os recursos naturais, aumentar a produtividade agrícola e preservar o ecossistema de uma forma sustentável [3].

O agroturismo pode apoiar os agroempreendedores e as zonas rurais no processo de uma economia com baixas emissões de carbono por [3] [8] [9] [13] [19]:

• integrar a agricultura no fornecimento de produtos turísticos e impulsionar as economias locais. O agroturismo é uma oportunidade importante, pois representa um canal de distribuição alternativo para os seus produtos. O efeito positivo do agroturismo é sentido na crescente atenção dos consumidores para práticas sustentáveis viáveis como a abordagem “zero quilómetros”, em que o fornecimento e consumo de produtos alimentares aos consumidores ocorre no mesmo local (ou nas proximidades) que a produção. O consumo de produtos com baixo teor de químicos e de produtos mais sustentáveis do ponto de vista ambiental também surgiu como um nicho de mercado ligado ao agroturismo. Além disso, o agroturismo pode ser um meio de desenvolvimento económico rural, atuando como um estímulo para motivar outras empresas locais, tais como artesanato, lojas, museus, restaurantes, gerando oportunidades de emprego local, criando cadeias de abastecimento duradouras nas comunidades e desenvolvendo novas competências. Outros fornecedores locais podem juntar-se a estes canais de distribuição e oferecer aos turistas os seus próprios bens e serviços e os turistas são estimulados a visitar as zonas rurais para além dos locais de agroturismo e a comprar produtos agrícolas e artesanato, reduzindo a necessidade de redes de produção e distribuição internacional em grande escala e diminuindo as emissões de GEE relacionadas com a distribuição de produtos agrícolas;
• atuar como uma fonte alternativa de rendimento para o agricultor (diversificação de negócios). As atividades de agroturismo são cada vez mais vistas como uma estratégia viável de diversificação económica para os agroempreendedores. Permite-lhes não só sobreviver durante períodos de fraca produção devido aos desafios das alterações climáticas, tendo outra fonte de rendimento, mas também investir fortemente em métodos de produção mais sustentáveis para a utilização eficiente dos recursos, controlo da poluição e estratégias de economia circular, bem como tecnologia verde, que requerem investimento adicional;
• investir em infraestruturas. A diversificação das atividades económicas rurais e o subsequente desenvolvimento das zonas rurais cria a necessidade de investimentos públicos e de atração de capital de fora destas zonas em energias alternativas e infraestruturas de transporte. O agroturismo pode acelerar a mudança para o aumento das energias renováveis e transportes sustentáveis, avançando para um crescimento com baixas emissões de carbono já que uma das principais atrações turísticas rurais consiste geralmente nos seus recursos naturais, obrigando a maiores esforços para preservar o ambiente. Além disso, os turistas são clientes a usar alternativas de transporte mais sustentáveis (como, por exemplo comboio) para chegar às zonas rurais;
• utilizar e manter de forma responsável os recursos naturais, promovendo a biodiversidade, a proteção ambiental e apoiando a redução de resíduos. A riqueza da biodiversidade e o património natural são frequentemente as principais razões pelas quais os turistas visitam as zonas rurais. O agroturismo pode, assim, desempenhar um papel importante na sensibilização dos agroempreendedores e no desenvolvimento de uma maior sensibilidade para a exploração dos recursos naturais e práticas de produção com impacte ambiental zero. Em primeiro lugar, o agroturismo tem um efeito positivo na preservação do património natural rural, contribuindo para a preservação da biodiversidade e dos recursos naturais. Em segundo lugar, também apoia os agroempreendedores na transição para uma energia mais sustentável, padrões de consumo e práticas de gestão de resíduos. A adoção de práticas de economia circular e protetora do ambiente, incluindo a reutilização, recuperação, redesenvolvimento, regeneração e valorização de recursos (por exemplo, procedimentos de conservação de água, programas de reciclagem, educação de turistas sobre questões de conservação, redução de resíduos alimentares através da compostagem e da alimentação de animais e reutilização de produtos não vendidos em restaurantes locais ou através da produção de novos produtos comercializáveis, tais como compotas ou produtos preservados, são uma referência para a sustentabilidade do agroturismo;
• educar os visitantes sobre a agricultura e o mundo rural. O agroturismo oferece aos turistas a oportunidade de desfrutar da atmosfera da vida agrícola, permanecendo num verdadeiro local agrícola, enquanto os agroempreendedores podem promover a conservação do contexto rural. A vida pastoral, o estilo de vida rural e a enogastronomia são alguns aspetos que encorajam os turistas a visitar as zonas rurais com o objetivo de educação, recreação e envolvimento ativo em atividades baseadas na agricultura. Os agroempreendedores são, assim, capazes de manter a viabilidade agrícola e diversificar as economias rurais, fornecendo serviços associados ao turismo e, em simultâneo, educar os turistas para a mitigação dos impactes ambientais indesejáveis nas zonas rurais.